Acho que alguém se jogou no metrô na segunda-feira… Cheguei na estação do metrô e a plataforma já estava lotada, o trêm parado, lotado e as pessoas continuavam entrando. Enquanto isso o alto falante anunciava que: “Devido a presença de usuário na via os tréns estavam circulando lentamente com maior tempo de parada nas estações”. Sabe o que isso significa? Não sei para os outros, mas para mim uma hora a mais na estação. Eu fui ficando claustrofóbica… ui que medo. Para melhorar eu comecei a pensar no USUÁRIO NA VIA… que estava na ESTAÇÃO CLINICAS… e imaginei uma histórinha:
Ele, Pedro, descobriu aos 35 anos que estava com câncer, resolveu que nunca mais iria esperar o trêm, o próximo trêm que aparecesse seria o seu último, que ele se jogaria e que seria feito em pedacinhos e levariam horas para limpar todos os pedaços dele na estação. Ele pensou: Quero ver agora ser “um problema meu”.
Pedro, é um pedreiro, trabalha na obra de dia e estuda Edificações à noite, no Senai. Ele chega atrasado para o trabalho e para a escola todos os dias, e por isso todos dizem que ele é preguiçoso e deveria acordar mais cedo. Pedro é pobre, mora na periferia e para se locomover ele pega ônibus, trém e metrô. Pedro faz muitas “baldeações” e leva mais de duas horas de um lugar a outro. Pedro e duro, não sorri e nem chora com facilidade, mas Pedro não gosta de esperar. Pedro espera muito tempo. Pedro sente uma dor que não sabe direito dizer como é, uma dor “dentro” uma dor mais dura que pedra, uma dor que aparece e desaparece sem ele entender porque.
Um dia Pedro sentiu tanta dor que não conseguiu pegar o trêm e o metrô, então Pedro, o pedreiro, não conseguiu ir para a obra, não conseguiu ir para escola. Disseram para Pedro que aquilo era “um problema seu” e disseram para Pedro ir no médico. Não que alguém estivesse preocupados com Pedro, o pedreiro, que todos acreditavam preguiçoso, que chegava sempre tarde e que agora “arrumava desculpa” para não trabalhar e estudar.
Pedro é pobre, e usa o SUS. Pedro foi em vários prontos socorros, postos de saúde e hospitais, ninguém entendia qual era o problema de Pedro. Pedro sabia que o problema era dele, por isso continuou a peregrinação de estação em estação. Pedro corria muito para chegar cedo e esperar longo tempo nas estações de trêm e metrô, para achar a solução da dor que não sabia, não entendia e que só ele sentia. Enfim, chegou a estação da Clínicas.
Pedro foi confiante até o hospital, fizeram ele andar por muitas alas, fazer muitos exames e muitas pesquisas, esperou muitas filas até aquele dia, naquela mesma hora, apenas alguns minutos atrás, disseram a Pedro, o pedreiro, com fama de preguiçoso, que o problema dele era Câncer e que podia ou não ter solução. Pedro, o pedreiro, que duro não ria e nem chorava com facilidade… não chorou, como de costume agradeceu a atenção. Por que Pedro, o pedreiro, se orgulhava de ser educado.
Saiu para a estação das Clinicas pensando qual seria a solução do “seu”problema. Esperando o metrô que o levaria até a estação para esperar outro trêm, sentindo aquela dor dentro que agora não tinha mais mistério, era a dor da morte que incomodava. Pedro decidiu que aquele era o último metrô que esperava e quando viu o metrô ele se jogou…
Pedro nunca foi muito bom de cálculos, apesar de estar estudando edificações para melhorar um pouco o salário, ele calculou mau e caiu antes do metrô chegar, mas não desistiu, ele foi a até o meio da linha abriu as pernas e braços e fechou os olhos e respirando fundo pensou aliviado: tudo isso vai acabar logo.
Ouviu um grande barulho e muitos braços puxando ele, eram várias pessoas tentavam “salvar” Pedro. O metrô parou e esperou Pedro. Pedro foi ficando sufocado, pensando que o problema era dele e agora ele queria resolver.Mas Pedro estava cercado por seguranças, usuários, técnicos, profissionais médicos todos querendo ajudar Pedro.
O metrô ficou parado por muitos minutos, esperando Pedro, enquanto tentavam convencê-lo a sair dali, porque Pedro é um cara duro, que não ria e nem chorava com facilidade, e duro também eram seus músculos de carregar pedra e cimento, duro seria tirá-lo dali. Foi duro fazer Pedro chorar, foi duro fazer Pedro rir, foi duro recolher os pedaços da história e que todos tiveram que ouvir, até que todos soubessem qual o problema de Pedro, o maior problema, a maior dor, era esperar tanto tempo sozinho. As pessoas solidarias em sua volta se emocionaram e começaram a dizer a Pedro que também esperavam, que também sentiam dor, e logo contavam suas histórias e de seus irmãos e vizinhos. O problema de Pedro, por uma hora, foi o problema de milhares de pessoas esperando nas estações.
Tiraram Pedro da via, levaram Pedro para casa, ele foi para casa de carona no carro da Polícia, que diante do trânsito ligarm a sirene e cortaram por calçadas e vias, sem respeito pelas leis de transito… Neste dia, excepcionalmente, Pedro chegou cedo em casa.
Pedro está em casa e passa bem.
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